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Memórias de uma Nordestina

Memórias de uma Nordestina
Aparentemente alguns brasileiros perderam a memória sobre cenário político e social em nosso país décadas atrás.
Bem, gentilmente ofereço as minhas....
No ano de 1993 ingressava na então 5ª série que precisava ser feita na cidade vizinha. Detalhe ... Não tinha livro didático ( o governo não oferecia) ... Não tinha transporte para voltar da escola ... Íamos no ônibus da prefeitura e voltávamos como Deus permitia... Em cima de caminhões, em carros de estranhos ou a pé numa jornada de 12 km ao sol do meio dia.
As vezes tinha merenda, outras não...
O dia que tinha merenda eu ficava feliz o dia que não tinha amargava a fome.
Em determinado dia saí de casa sem comer as 6 da manhã, não teve merenda, não tinha forças pra voltar a pé... Fiquei na escola esperando o transporte da tarde retornar as 4 horas pq era prova... N comi o dia inteiro... Cheguei em casa as 4:35 adormeci com fome... N tinha forças pra comer o cuscuz e café sem leite ... 
Eu só tinha onze anos... O presidente era então o senhor Itamar Franco vice de Collor que foi aclamado como o salvador da pátria, aquele que acabaria com os marajás.
O tempo passou... Fiz 4 anos do fundamental II e passamos ao médio.
Ainda não tínhamos livro didático... Nem dinheiro para comprar ... A merenda escolar continuava não sendo grande coisa e o transporte público funcionava no sistema de carona pq ensino médio de escola estadual ( a única q oferecia ensino médio com formação em Magistério) ao que se sabia n tinha direito à transporte público.
O Presidente era então o senhor Fernando Henrique Cardoso.
Ano de 2002 era professora de EJA em uma localidade rural que ficava alguns quilômetros distante.. Mais uma vez sem direito à transporte... Ia de carona na boleia de caminhão de qualquer desconhecido. Salário R$ 180,00(dos quais 60 seriam gastos com passagem de volta), então a carona era uma forma de economizar o salário de fome.
Descia em um ponto da BR andava mais 3km numa estrada de chão chovesse ou fizesse sol para encontrar uma localidade sofrida quase sempre sem água, sem luz elétrica e com muitas famílias em situação de miséria... 
Detalhe ... a merenda escolar as vezes tinha outras não... Algumas vezes nem tinha giz... Livro didático? Usava o que eu ganhei de meu marido e q era como uma tábua de salvação na alfabetização de jovens e adultos.
Era lamentável chegar à uma localidade de gente q trabalhava tanto de sol a sol e ver q não podiam viver com dignidade.
Beber lama n é apenas uma força de expressão ... Bebia se lama msm em algumas ocasiões.
Pega o resto de água do tanque de barro, passa por um pano fino e bebe-se.
Este era o então governo do senhor Fernando Henrique Cardoso.
ESTES SÃO OS TEMPOS ÁUREOS QUE QUEREM RETOMAR ?
Eu agradeço.
Diz-se que não se investe em educação...
Olhe ao seu redor um pouquinho, vc que estudou ou ensinou na era FHC ou Collor... 
Você tinha livro didático? Laboratório? Biblioteca na escola? Como era a merenda? Tinha transporte escolar? Alguém se preocupava com o mobiliário da Educação Infantil? Quantos cursos de capacitação você teve? Os livros de literatura infantil chegavam até sua escola ou vc era esquecido por Deus? Quem tomava conta do dinheiro da escola, o gestor prestando contas ou a prefeitura escondendo o jogo?
Qual era seu salário msm professor? Como era ensinar sem que seu aluno tivesse livro? Não era angustiante ver criança fora da escola trabalhando nos fornos de carvão? O que você sente quando vê que seu aluno não come uma vez só por dia como era costume por aqui?
Ah, de quando é a lei do piso salarial?
Como você se sente sabendo que ao serem construídas novas escolas elas já são planejadas com biblioteca, sala de informática, quadra?
São apenas indagações...
São memórias que gostaria de ceder... Memórias verdadeiras,memórias que sobreviverão enquanto vida eu tiver e enquanto meus filhos puderem repassar aos seus filhos e filho de seus filhos.
Muitos podem ter esquecido ... eu não...
E n lembro apenas de como era a escola... 
Eu lembro do meu irmão adolescente no canavial e nas olarias .. Lembro das pessoas pedindo esmola ..Dos noticiários dando conta de mais um q morreu de fome...
Eu lembro das mãos calejadas da minha tia cortando palma e das minhas mãos furadas pelo espinho da palma ou do mandacaru quando tentava ajudar...
Lembro do gado caído na roça morrendo de fome e sede e das vezes q peguei água pra beber num tanque em q o gado tbm bebia o resto de lama...
Eu n vou esquecer 
 Não vou esquecer q meu esposo foi menino de rua e hoje pode viver de forma mais justa em família e com amor!
Viemos do nada e em outro governo nada ainda seríamos
O Brasil precisa de uma nova cara?
Esta cara "nova" me lembra muito das condições indignas em q tive q viver por ser nordestina, pobre , filha de negra lavadeira que não raras as vezes amarrou a barriga com um pano para não sentir a dor da fome, mas sobreviveu e pode ver seus filhos tendo uma existência menos degradante! 

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