O hábito de ler não é algo que vá nascer do dia para a noite. Como tudo na vida ele é melhor adquirido se valorizado pela sociedade e pela própria criança; e não se estimula uma criança a ler simplesmente lhe oferecendo meia dúzia de livros empilhados a um canto da sala. Não apenas...
É preciso algo mais para se formar leitores.
É preciso, por exemplo que a sociedade passe a valorizar a leitura maciça, o que parece estar bem longe de acontecer em nosso país que cada dia mais prega um reducionismo educacional que eu classificaria como abusivo.
Leitura pra ser leitura tem que ser curta e fazer bem... Dizem... Dizem...
O que se lê com alegria hoje em dia?
SMS e textos curtos de correntes em redes sociais ou de mensagens em aplicativos de interação.
Leitura maciça é sempre colocada como chata, enfadonha, horrível e sem serviço. Ler livros? Pra que? Ler clássicos? Não!
Há quem considere um achado o reducionismo e considere que mudar a linguagem dos livros de Machado de Assis reescrevendo de forma simplificada levará os jovens a apreciar a leitura.
Ledo engano... A única coisa que acontecerá é que alguns lerão textos novos sobre histórias antigas sem captar a essência daquilo que o escritor escreveu.
Lamentável!
Parece mesmo que há certa euforia ao se propagar aos quatro ventos que ler é sentir prazer.
Discordo, e digo meus motivos.
O início da leitura de um livro em raríssimos casos não é prazerosa.
Em se tratando de livros infantis em geral temos o ERA UMA VEZ... que é quase sempre em um reino distante há muito tempo atrás e contará a história de um personagem que não conheço e a bem da verdade não sei se me apetece conhecer.
Os livros se tornam interessantes após o envolvimento do leitor com os personagens, com a "trama" e não apenas os livros, mas as novelas, filmes, séries. Por isso é comum dizer que aquele personagem não pegou , ou este personagem não agradou o público., ou alguém ler o primeiro capítulo de um livro e dizer que odiou.
Não há quase prazer nenhum nos inícios... Há menos que sejam inícios de casos pessoais amorosos.
Quando li Gabriela de Jorge Amado fique a pensar onde cargas d'água estava a personagem que dava nome ao livro que não aprecia. Abandonei a leitura algumas vezes e retornei , não pelo prazer da leitura , mas pelo descontentamento em não conhecer a personagem. Já o livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinha do mesmo autor começa de tal modo que é deveras impossível deixá-lo de lado ... É um dos raros livros, como Dom Casmurro, que conseguiu me prender nas primeiras linhas.
Quem dera todos os livros fossem assim, mas não são!
Muitos são como O Ateneu de Raul Pompéia o qual li e odiei, reli só pra ter certeza que odiava. ODEIO!
Não senti prazer, mas li e hoje posso criticar como quem leu sem contudo deixar de apreciar a forma de ver do que leu e amou.
Mas ler não se faz apenas para ter prazer... Não mesmo!
Ler muitas vezes implica em refletir sobre fatos que são desagradáveis ou que desejamos não conhecer,.
Leitura não é apenas prazer, é mistura de sentimentos é aprofundamento é mergulho dentro de si mesmo e enfrentamento de seus traumas.
Por outro lado tomar a postura de quem lê apenas pra cumprir uma penitência para quase nada serve , e parece que temos lido nossos artigos acadêmicos como um prisioneiro em um cárcere imundo numa prisão onde um carrasco diariamente passa a dar umas chibatadas, tal é o volume de reclamações que se lê (em textos de 2 linhas na rede social) sobre as leituras de livros acadêmicos.
É um terror, é um sofrimento, é um desprazer, é uma agonia...
Muita lamúria... E muita gente em uma prisão sem muros a lá caverna do dragão.
Para fugir do desprazer não basta deixar de ler, mas procurar envolver-se mais, mergulhar no universo do escritor, decifrar enigmas, escutar o som do próprio pensamentos e certamente será bem simples argumentar e sair da prisão à liberdade de ler e desenvolver o censo crítico. Apurar e aprender a sentir prazer nos dissabores e propagar aos quatro ventos não o descontentamento de precisar ler determinado artigo, mas a alegria de agregar conhecimentos e poder falar com propriedade sobre diversos temas
A prisão sem muros existe apenas para aqueles que aprenderam desde a tenra infância que ler é só obrigação ou apenas prazer.
Quem aprendeu que é obrigação costuma odiar a leitura.
Quem ouviu que é apenas prazer aprendeu que não é bom se mentem pra gente!
Ler é prazer, é obrigação e também necessidade.
Ler é viver?
Sim é!
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